POEMAS DE AGOSTINHO NETO

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À reconquista
Não te voltes demasiado para ti mesma
Não te feches no castelo das lucubrações  infinitas
Das recordações  e sonhos que podias ter vivido

Vem comigo África de calças de fantasia
desçamos à rua
e dancemos a dança fatigante dos homens 
o batuque simples das lavadeiras
ouçamos o tam-tam angustioso
enquanto os corvos vigiam os vivos
esperando que se tornem cadáveres

vem comigo África dos palcos acidentais
descobrir o mundo real
onde os milhões se irmanam na mesma miséria
atrás das fachadas de democracia de cristianismo de igualdade

Vem comigo África de colchões de molas
e reentremos na casinha de latas esquecidas no musseque da Boavista
até onde já nos empurram
ao nos quebrarem as casas de meia água de Cayette
e à volta de fogo consolador das nossas aspirações mais justas
examinaremos a injustiça inoculada no sistema vivo em que giramos.

Vem comigo África de colchões de esmola
regressemos à nossa África
onde temos um pedaço da nossa carne calcado sob as botas dos magala
- a nossa África

Vem comigo África do jitterburg
até a terra até o homem até o fundo de nós
ver quando de ti e de mim faltou
quanto da África esqueceu
e morreu na nossa pele mal coberta sob o fato emprestado
pelo mais miserável dos ex-fidalgos

Não chores África dos que partiram
olhemos claros para os ombros encurvados do povo que desce a calçada
negro negro de miséria negro de frustração negro de ânsia

e dêmos-lhes o coração 
entreguemo-nos

através da fome da prostituição das cubatas esfuracadas
das chanfalhadas dos cipaios
através dos muros das prisões através da Grande Injustiça

Ninguém nos fará calar
Ninguém nos poderá impedir
O sorriso dos nossos lábios não é agradecimento pela morte
com quem nos matam.

Vamos com toda a Humanidade
Conquistar o nosso mundo e a nossa Paz.
- Agostinho Neto (1953), em "Sagrada esperança".


A voz igual
Neste amanhecer vital
para os acontecimentos extraordinários
por montes e rios, por anharas e preconceitos
caminhamos já vitoriosos
sobre a condição moribunda

Um amanhecer vital
em que se transforma as sensações orgânicas
sobre o solo pátrio

As flores apenas pétalas e aroma
os homens apenas homens
o lavrador possuindo a terra em associação perene
o operário da fábrica consciencializado a máquina
e a nossa voz gritando igual no seio da Humanidade
na mesma hora em que a mentira
se esconde na covarde violência

Os homens saídos dos cemitérios da ignorância
das ossadas insepultas dos arrabaldes das cidades
nas sanzalas e nas terras estéreis
são os eleitos
os participantes efectivos no festim da nova vida
e das suas vicissitudes

Os homens
cuja voz descansou sob a condição e sob o ódio
e construíram os impérios do Ocidente
as riquezas e as oportunidades da velha Europa
mantendo os seus pilares sobre a angústia pulsátil dos braços
sobre a indignidade e a morte dos seus filhos
os homens sacrificados nos traços paralelos das vias férreas
cujo sangue se encontra nas argamassas
lançado com pontes e estradas
também prenderam as águas nas barragens
com as suas mãos formidáveis e com os seus mortos
deram ao brilho das metrópoles ouro e diamantes
e das entranhas da terra mungiram óleos e farturas
para os sorrisos ingratos
e na sua bondade na sua visionária esperança
pediram às estrelas
apenas o complemento espiritual do dia escravo
Povo genial heroicamente vivo
onde outros pereceram
de vitalidade inultrapassada na História
alimentou continentes e deu ritmos à América
deuses e agilidade nos estádios
centelhas luminosas na ciência e na arte

Povo negro
homens anónimos no espírito da triste vaidade branca
agora construindo a nossa pátria
a nossa África
e no traço luminoso dos dias magníficos de hoje
definem a África solidária e esforçada
contra os desvarios duma natureza incongruente
na independência
num mundo novo com a voz igual

chegada a hora das transformações cósmicas
que atingem a terra e catalisam os fenómenos
o raio mortífero da revolução
pulveriza a submissão do homem
e na força da amizade se encontram as mãos
se beijam as faces

Na hora das transformações humanas
o chilreio infantil da mocidade feliz
cantando em rodas ensaiadas pelos avós
falando nas nossas línguas a tradição da nossa terra
harmonizando as vozes na hora da independência
reconquistando o solo pátrio
para o nosso homem
preenche-lhe o vazio
Cantam nas praças e nos templos da sabedoria
as raparigas os poetas o brilhos das estrelas
mergulhadas as raízes no húmus ancestral da África

Chegados à hora
fervilha a impaciência nos corações que lutam
pelo fumegar das fábricas e chiar dos guindastes
homens e rodas, suor e ruido
conjugados na construção da pátria libertada
conscientemente na construção da pátria
sem que o germe da exploração lhe penetre
sem que a voz nauseabunda do capataz
anuncie o cair do chicote
e os homens felizes na incomodidade de hoje
nos campos de batalha, nas prisões, no exílio
construindo o amanhã, para uma terra nossa uma pátria nossa
independente
Construção

       e
       reencontro

Chegados à hora
caminha o povo infatigável para o reencontro
para de novo se descobrir e fazer
nas melodias e nos cheiros ancestrais
na modificação progressiva dos sacrifícios aos deuses
nas violências sagradas e nos ritos sociais
na revivificação e na carinhosa adoração dos mortos
no respeito do vivos
nas orgíacas práticas do nascimento e da morte
na iniciação da vida e do amor
no milagroso pacto entre o homem e o cosmos

Reencontrar a África no sorriso
no choque diário com os fantasmas da vida
na consagração da sabedoria e da paz
livres do constrangimento livres da opressão livres

Reencontrar-se nos campos de trabalho
na socialização
na entreajuda gloriosa nos campos
nas construções
nas caçadas
na colectivização das catástrofes e alegrias
na congregação dos braços para o trabalho
reencontrar-se nas tradições e nos caminhos feiticeiros
no medo no furor dos rios e cataratas
na floresta na religião na filosofia
a essência para a nova vida de África

Ressuscitar o homem
nas explosões humanas do dia a dia
na marimba no chingufo no quissange no tambor
no movimento dos braços e corpos
nos sonhos melodiosos da música
na expressão do olhar
e no acasalamento sublime da noite com o luar
da sombra com o fogo do calor com a luz
a alegria dos que vivem com o sacrifício gingado dos dias

Reencontrar
nos sagrados refúgios das horas de angústia
os homens perdidos nos labirintos alcoólicos
vícios da escravidão
e socorro extremo para a fome crónica
dos dias de frio e de calor de tristeza e de alegria
dos dias de farra e dos dias de rusga
dos minutos importantíssimos da existência imediata
imprevisível indispensável
com ódios amizades traições riso choro força
fadiga energia ânimo desânimo silêncio
ruídos de terramoto soltos pelas mãos
ansiosas de êxito e de esquecimento
e de sonoras palavras nas letras das músicas desesperadas
lançadas nos bailes de sábado sobre as poeiras dos quintais
e o desejo incontido de se realizar
de ser homem
de encontrar o calor supremo na superfície carnal do outro
a voz amiga na laringe longínqua do outro
afagando um pouco a vida
num artifício monstro da liberdade ansiada

Reencontrar nos álcoois
No sangue demoníaco das entranhas feiticistas da terra
onde se espelham os horizontes infernais da morte
e se cruzam razão e loucura
bílis amaríssima no encarceramento da prudência
e da capacidade
buscar nos álcoois
o amor à cultura à investigação à criação
à explicação do cosmos
o domínio da seta veloz sobre a vida do antílope
da água sobre as chamas ateadas pelo raio
a forma e o âmago
do estilo africano de vida

Do caos para o reinício do mundo
para o começo progressivo da vida
e entrar no concerto harmonioso do universal
digno e livre
povo independente com voz igual
a partir deste amanhecer vital sobre a nossa esperança.
- Agostinho Neto (Arquipélago de Cabo Verde - Ponta sol, Dezembro de 1960), em "Sagrada esperança".




Adeus à hora da largada
Minha mãe
(todas as mães negras
cujos filhos partiram)
tu me ensinaste a esperar
como esperaste nas horas difíceis

Mas a vida
matou em mim essa mística esperança

Eu já não espero
sou aquele por quem se espera

Sou eu minha Mãe
a esperança somos nós 
os teus filhos
partidos  para uma fé que alimenta a vida

Hoje
somos as crianças nuas das sanzalas do mato
os garotos sem escola a jogar a bola de trapos
nos areias ao meio-dia
somos nós mesmos
os contratados a queimar vidas nos cafezais
os homens negros ignorantes
que devem respeitar o homem branco
e temer o rico
somos os teus filhos
dos bairros de pretos
além aonde não chega a luz eléctrica
os homens bêbedos a cair 
abandonados ao ritmo dum batuque de morte 
teus filhos
com fome
com sede
com vergonha de te chamarmos Mãe
com medo de atravessar as ruas 
com medo dos homens
nós mesmos

Amanha
entoaremos hinos à liberdade
quando comemorarmos
a data da abolição desta escravatura

Nós vamos em busca de luz
os teus filhos Mãe
(todas as mães negras
cujos filhos partiram)
vão em busca de vida.
- Agostinho Neto, em "Sagrada esperança".


Amanhecer
Há um sussuro morno
sobre a terra;
degladiam-se
luz e trevas 
pela posse do Universo;
sente-se a existência
a penetrar-nos nas veias
vinda lá de fora
através da janela;

cresce a alegria na alma
a Vida murmura-nos doces fantasias.

Tangem sinos na madrugada
vai nascer o sol.
- Agostinho Neto, em "Amanhecer".


Aspiração
Ainda o meu canto dolente
e a minha tristeza
no Congo na Geórgia no Amazonas

Ainda
o meu sonho de batuque em noites de luar

Ainda os meus braços
ainda os meus olhos
ainda os meus gritos

Ainda o dorso vergastado
o coração abandonado
e a alma entregue à fé
ainda a dúvida

E sobre os meus cantos 
os meus sonhos
os meus olhos
os meus gritos
sobre o meu mundo isolado
o tempo parado

Ainda o meu espírito
ainda o quissange
a marimba
a viola
o saxofone
ainda os meus ritmos de ritual orgíaco

Ainda a minha vida 
oferecida à Vida
ainda o meu Desejo

Ainda o meu sonho
o meu grito
o meu braço
a sustentar o meu Querer

E nas sanzalas
nas casas
nos subúrbios das cidades
para lá das linhas 
nos recantos escuros das casas ricas
onde os negros murmuram:ainda

O meu Desejo
transformando em Força
inspirando as consciências desesperadas.
- Agostinho Neto (1949), em "Sagrada esperança".


As terras sentidas
As terras sentidas de África
nos ais chorosos do antigo e do novo escravo
no suor aviltante do batuque impuro
de outros mares
sentidas

As terras sentidas de África
na sensação infame do perfume estonteante da flor
esmagada na floresta do ferro e do fogo
as terras sentidas

As terras sentidas de África 
no sonho logo desfeito em tinidos de chaves carcereiras
e no riso sufocado e na voz vitoriosa dos lamentos
e no brilho inconsciente das sensações escondidas
das terras sentidas de África

Vivas
em si e connosco vivas

Elas fervilham-nos em sonhos 
ornados de danças de embondeiros sobre equilíbrios
de antílope
na aliança perpétua de tudo quanto vive

Elas gritam o som da vida 
gritam-no
mesmo nos cadáveres devolvidos pelo Atlântico
em oferta pútrida de incoerência e morte 
e na limpidez de rios

Elas vivem
as terras sentidas de África
no som harmonioso das consciências
incluída no sangue honesto dos homens
no forte desejo dos homens 
na sinceridade dos homens 
na razão pura e simples da existência das estrelas

Elas vivem 
as terras sentidas de África
porque nós vivemos
e somos as partículas imperecíveis
das terras sentidas de África.
- Agostinho Neto, em "Sagrada esperança".


Campos verdes
Os campos verdes, longas, serras, ternos lagos
estendem-se harmoniosos na terra tranquila
onde os olhos adormecem temores vagos
aceso mornamente sob a dura argila,

seca, como outrora mingou a doce esperança
quente, imperecível como sempre o amor
sacrificada, sangrada na lembrança
do esforço bestial do látego opressor.

Em campos verdes, longa serras, ternos lagos
vefulgem ígneas chamas, rubros rugem mares
cintilados de ódio, com sorriso em mil afagos

São as vozes em coro na impaciência
buscando paz, a vida em cansaços seculares
nos lábios soprando uma palavra: independência!

- Agostinho Neto (Cadeia de aljube de Lisboa, Setembro de 1960), em "Sagrada esperança".


Comboio africano
Um comboio
subindo de difícil vale africano
chia que chia
lento e caricato

Grita e grita

quem esforçou não perdeu
mas ainda não ganhou

Muitas vidas
ensoparam a terra
onde assenta os rails
e se esmagam sob o peso da máquina
e no barulho da terceira classe

Grita e grita

quem esforçou não perdeu
mas ainda não ganhou

Lento caricato e cruel
o comboio africano…
- Agostinho Neto, em "Sagrada esperança".


Confiança
O oceano separou-me de mim
enquanto me fui esquecendo nos séculos
e eis-me presente
reunindo em mim o espaço
condensando o tempo

Na minha história
existe o paradoxo do homem disperso

Enquanto o sorriso brilhava
no canto de dor
e as mãos construíram mundos maravilhosos

John foi linchado
o irmão chicoteado nas costas nuas
a mulher amordaçada
e o filho continuou ignorante

E do drama intenso
duma vida imensa e útil
resultou certeza

As minhas mãos colocaram pedras
nos alicerces do mundo
mereço o meu pedaço de pão.
- Agostinho Neto (1949), em "Sagrada esperança".


Criar
Criar criar
criar no espírito criar no músculo criar no nervo
criar no homem criar na massa
criar
criar com olhos secos

Criar criar
sobre a profanação da floresta
sobre a fortaleza impudica do chicote
criar sobre o perfume dos troncos serrados
criar
criar com olhos secos

Criar criar
gargalhas sobre os escárnio da palmatória
coragem nas pontas das botas do roceiros
força  no esfrangalhado das portas violentas
firmeza no vermelho sangue da insegurança
criar
criar com olhos secos

Criar criar
Estrelas sobre o camartelo guerreiro
paz sobre o choro das crianças
paz sobre o suor sobre a lágrima do contrato
paz sobre o ódio
criar
criar com olhos secos

Criar criar
liberdades nas estradas escravas
algemas de amor nos caminhos paganizados do amor
sons festivos sobre o balanceio dos corpos em força simuladas

criar
criar amor com os olhos secos.
- Agostinho Neto, em "Sagrada esperança".


Desfile de sombras
Por milhentos caminhos
Do meu Desejo
Passam sombras a tactear o Nada;

Vão 
esforçadas na incerteza
por abraçar
os pontos de interrogação da existência.

Atravessam-me 
Arrastando
à laia de gloria
grilhetas e cadeias
com estúpidos sorrisos.

São os homens
que chegaram
e se não acharam

e os angustiados
que ultrapassaram na Vida
e se perderam na confusão;

e os que estão vindo
titubeantes
para este mundo
desconhecido
dos que já chegaram

passam por mim
e eu sigo-os através de mim.

Lá vamos nós!

As sombras sem querer
com os sentidos anestesiados
como a praia que quer ser onda
alar-se em vida
na imensidade 
sentir no peito
a violência das quilhas dos navios
recolher a angústia
e os últimos suspiros dos náufragos
e ficou apenas praia
a sorver ondas
e a contemplar estática
o movimento de além.

As sombras
que se esvaíram no tempo
deixaram-me
esta ânsia
e o eco múltiplo
do tilintar das suas cadeias; 
às que hão-de vir
mostrarei essas cadeias quebradas
e com elas repartirei
o meu desejo de ser onda
neste desfile dos tristes
que se perdem.

Seguem
rojando-se em esperanças
interrogando à morte
o que é a vida

Elas vão longe
ainda vêm longe
e eu sigo-me através de mim.

- Agostinho Neto (1948), em "Sagrada esperança".


Docemente
Num dia em que um sorriso
me pareceu amor.
Eu acredito no amor.

Um sol nasceu num dia qualquer 
Dia de amor
Dia de alegria
E todas as aves cantaram no céu
Esse dia alegre de amor.

Um ser de andar leve sorriu
Sorriu para mim
Sorriu para o meu mundo
E todas as portas do optimismo se abriram
Nesse doce sorriso de amor.

Duas mãos se apertaram confiantes
Dois caminhos fundidos
Um Desejo em dois desejos
E todo o Universo se condensou
No sentir das mãos unidas em amor.

Docemente o sol nasceu
Docemente o amor brilhou
E o mundo
Se tornou também o nosso mundo.
- Agostinho Neto (4 de Setembro de 1951), em "Amanhecer".


Eu - mistério
Sou um mistério.

Vivo as mil mortes
que todos os dias
morro
fatalmente.

Por todo mundo
o meu corpo retalhado
foi espalhado aos pedaços
em explosões de ódio
e ambição
e cobiça de glória.

Perto e longe
continuam massacrando-me a carne
sempre viva e crente
no raiar dum dia
que há século espero.

Um dia
que não seja angustia
nem já esperança.

Dia
dum eu – realidade.
- Agostinho Neto (1947), em "Renuncia impossível".


Fogo e ritmo
Sons de grilhetas nas estradas 
cantos de pássaros 
sob a verdura húmida das florestas 
frescura na sinfonia adocicada 
dos coqueirais 
fogo
fogo no capim
fogo sobre o quente das chapas do Cayatte

Caminhos largos
cheios de gente cheios de gente
cheios de gente 
em êxodo de toda a parte 
caminhos largos para os horizontes fechados 
mas caminhos
caminhos abertos por cima 
da impossibilidade dos braços.

 Fogueiras
    dança
      tamtam
        ritmo

Ritmo na luz
ritmo na cor
ritmo no som
ritmo no movimento 
ritmo nas gretas sangrentas dos pés descalços 
ritmo nas unhas arrancadas
Mas ritmo
ritmo

Ó vozes dolorosas de África!
- Agostinho Neto, em "Sagrada esperança".


Havemos de voltar
Às casas, às nossos lavras
às praias, aos nossos campos
havemos de voltar

Às nossos terras
vermelhas de café
brancas de algodão
verdes dos milharais 
havemos de voltar

às nossas minas de diamantes
ouro, cobre, de petróleo
havemos de voltar

Aos nossos rios, nossos lagos
às montanhas, às florestas
havemos de voltar

À frescura da mulemba
às  nossas tradições
aos ritmos e às fogueiras
havemos de voltar

À marimba e ao quissangue
ao nosso carnaval
havemos de voltar

À bela pátria angolana
nossa terra, nossa mãe
havemos de voltar

Havemos de voltar
À Angola libertada
Angola independente
- Agostinho Neto (Cadeia de aljube de Lisboa, Outubro de 1960), em "Sagrada esperança".





Kalunga
Ela veio do mato
e confundiu
as estrelas com as luzes da cidade

Na cidade
os seus olhos eram duas estrelas

E no coração de muitos homens
não brilhou outro sol
senão a linda filha de soba
que viera das terras da Lunda
e morava no muceque Sambizanga

Mas os seus olhos confusos
descobriram na cidade 
um mundo diferente
onde a sua alma era aferrolhada
nos navios que levaram do Congo
os homens sobre o mar 
Kalunga! Morte

Aquela cidade era um mar
era a sua morte

E na cidade brilhante
que é um mundo, um mar
Kalunga!


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