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Bernadette Lyra
curadora

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Bernadette Lyra é escritora e pesquisadora de cinema. Possui graduação em letras pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), mestrado em comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutorado em cinema pela Universidade de São Paulo (USP). Tem pós-doutorado pela Universidade René Descartes/Sorbonne (Paris V) e atualmente é professora titular da Universidade Anhembi Morumbi.

Uma constelação de sotaques e gêneros

Pela sexta vez, o Itaú Cultural promove a Mostra Cinema de Bordas, que tem como função principal exibir filmes de baixíssimo orçamento feitos em cidades do interior ou na periferia dos principais centros de produção cinematográfica do país.

São longas, médias e curtas com características bastante específicas, ligadas às táticas do entretenimento e ao orçamento, que beira o precário. Os filmes de bordas, no entanto, sempre aproveitam e exploram ao máximo as próprias carências, alimentando-se da experiência trivial e da precariedade com que se realizam.
 
O recorte temático desta edição da mostra recai sobre a multiplicidade e a heterogeneidade de gêneros cinematográficos dos filmes de bordas. Nessas produções os gêneros são mais pautados pela experiência e pelo contato pessoal de cada realizador com os produtos cinematográficos e audiovisuais do que pela estrutura tradicional genérica. Por isso, cenas, personagens e situações parecem já vistas, sobretudo em filmes hollywoodianos. O diferencial está no toque periférico e no sotaque que marca cada região do Brasil.

Na mostra os espectadores podem assistir a faroestes que acontecem no planalto paulista ou em pleno sertão nordestino; filmes de ação passados em subúrbios e cidadezinhas do país; filmes que misturam fantasmas, fantasias e lendas de certas regiões brasileiras; ficção científica com peripécias à moda da casa; comédias escrachadas em feiras interioranas; melodramas e dramas shakespearianos toscamente rasgados; filmes do submundo com excesso precário de sangue e suor; heróis e heroínas de HQs deslocados; zumbis que vagueiam pela desertificada paisagem do Nordeste ou que pulam Carnaval em Copacabana. São histórias bizarras, engraçadas ou absurdas, que fazem as delícias de quem se atreve a delas gostar.
 
Alguns dos filmes de bordas aqui selecionados são quase invisíveis aos olhos do público. Uns nunca saíram do âmbito de seu círculo estreito de realização; outros já foram exibidos em festivais alternativos ou mostras quase sempre circunscritas a uma monotemática de gênero que, ao privilegiar determinado modelo, acaba por excluir os demais.

Os trabalhos têm como traço comum, no entanto, a vontade de ter um lugar ao sol no cinema. E seus realizadores estão acostumados a percorrer a via-crúcis dos poucos circuitos de exibição que se mostram receptivos e lhes abrem oportunidades, na luta para fazê-los vistos e reconhecidos.

A Mostra Cinema de Bordas inclui-se nas que partilham esse périplo e apresenta uma proposta carinhosamente inclusiva, passando ao largo de denominações dicotômicas – como aquela que põe de um lado o cinema de estúdio e de outro o cinema chamado de independente.
 
Os filmes de bordas não atendem e não servem senão a um propósito único: o desejo de fazer cinema. Um desejo que move e motiva, igualmente, cineastas amadores e profissionais, de todos os tipos, de todas as idades, de todos os estratos sociais, espalhados por todo o país.


MOSTRA CINEMA DE BORDAS MARCA LANÇAMENTO DO 22º FESTIVAL DE CINEMA DE VITÓRIA




 

Ampliar o acesso às mais variadas produções é uma das propostas do 22º Festival de Cinema de Vitória, que acontece de 11 a 16 de setembro deste ano. Antecipando a semana do Festival, a Mostra Cinema de Bordas trará uma seleção de filmes que estão bem distantes do circuito comercial, nos dias 14 e 15 de agosto, no Cineclube Metrópolis /Ufes, em Vitória. A entrada é franca.

O pré-evento, programado para acontecer das 19h às 22h nos dois dias, tem curadoria da pesquisadora e professora de Cinema Bernadette Lyra, que criou o termo Cinema de Bordas em 2005, depois de uma série de estudos sobre filmes que apresentam características específicas de produção, realização e exibição. Ao final das sessões, haverá um debate com a curadora, com a diretora e produtora Saskia Sá e com o professor do Departamento de Comunicação Social da Ufes Fábio Camarneiro.

“São filmes alternativos, totalmente invisíveis aos olhos do público que frequenta as salas “multiplex” de hoje. São realizados com baixíssimo orçamento, técnicas precárias, falta de aparatos tecnológicos, amadorismo de atores e atrizes, diretores autodidatas e muita criatividade”, define Bernadette.

Produzidos nas mais diversas regiões do Brasil e de todos os gêneros, os filmes que serão exibidos sobrevivem “às bordas” do cinema comercial ou artístico, assumindo, sem medos e com humor, uma estética tosca, sob uma ótica caseira. “Nesta pequena mostra que antecede o 22º Festival de Cinema de Vitória, o Cine Metrópolis faz chegar aos espectadores filmes realizados em regiões rurais, cidadezinhas pequenas e subúrbios de grandes cidades”, aponta a curadora.

 

Sobre a curadora

Bernadette Lyra é natural do Espírito Santo e colunista do jornal A Gazeta, de Vitória (ES). Fez pós-doutorado em Cinema pela Université René Descartes, Paris V, Sorbonne, França. Foi professora do curso de pós-graduação no Departamento de Cinema, Rádio e Tevê, da ECA/USP. Atualmente, é professora do Mestrado em Comunicação Audiovisual da Universidade Anhembi Morumbi/SP. É sócia fundadora da Sociedade Brasileira de Cinema e Audiovisual (Socine). Foi, várias vezes, eleita Membro do Conselho Deliberativo e Membro do Comitê Científico da Socine, e curadora de mostras de cinema em várias cidades do Brasil. Possui livros, capítulos de livros e artigos sobre cinema e audiovisual publicados no país e no exterior.


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