POEMAS ESCOLHIDOS DE AUGUSTO DE CAMPOS

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Augusto de Campos  - foto: Luis Carlos Murauskas/Folhapress

POEMAS ESCOLHIDOS DE AUGUSTO DE CAMPOS

poetamenos
ou aspirando à esperança de uma

                    K L A N G F A R B E N M E L O D I E 
                                 (melodiadetimbres) 
                                                                                      com palavras 
como em Webern: 
        uma melodia contínua deslocada de um instrumento para outro, 
   mudando constantemente sua cor: 
       instrumentos:
 frase / palavra / sílaba / letra (s), cujos timbres se 
definam p/ um tema gráfico-fonético ou ‘ideogrâmico’. 
      a necessidade de representação gráfica em cores (q ainda  
assim apenas aproximadamente representam, podendo diminuir em  
funcionalidade em ctos casos complexos de superposição e interpe- 
netração temática), excluída a representação monocolor q está para  
o poema como uma fotografia para a realidade cromática. 
      mas luminosos, ou filmletras, quem os tiveras! 
reverberação:
  leitura oral – vozes reais agindo em (apro- 
ximadamente) timbre para o poema como os instrumentos  
na klangfarbenmelodie de Webern.    
- Augusto de Campos, em "Teoria da Poesia Concreta 1950-1960." [Décio Pignatari, Augusto e Haroldo de Campos]. São Paulo: Brasiliense, 1987, p. 21. (publicado originalmente como introdução à série "poeamenos" (janeiro/julho|1953), em revista Noigandres, nº 2, São Paulo: fevereiro, 1955.

§

SONETERAPIA
        “desta vez acabo
                    a obra”
 (Gregório de Matos)


drummond perdeu a pedra: é drummundano
joão cabral entrou pra academia
custou mas descobriram que caetano
era o poeta (como eu dizia)

o concretismo é frio e desumano
dizem todos (tirando uma fatia)
e enquanto nós entramos pelo cano
os humanos entregam a poesia           

na geleia geral da nossa história
sousândrade kilkerry oswald vaiados
estão comendo as pedras da vitória

quem não se comunica dá a dica:
tó pra vocês chupins desmemoriados
só o incomunicável comunica  
- Augusto de Campos, publicado em "Navilouca". 1975. 


§ 

POESIA CONCRETA E VISUAL
"[...] os poemas concretos caracterizar-se-iam por uma estrutura ótico-sonora irreversível e funcional, e, por assim dizer, geradora de idéia, criando uma entidade todo-dinâmica, “verbivocovisual” – é o termo de Joyce – de palavras dúcteis, moldáveis, amalgamáveis, à disposição do poema."
- Augusto de Campos, em "Teoria da Poesia Concreta 1950-1960." [Décio Pignatari, Augusto e Haroldo de Campos]. São Paulo: Brasiliense, 1987, p. 40. 

Lixo, Augusto de Campos


Mudo, Augusto de Campos


Augusto de Campos - Inovações. Poemas '2 palavras', in Outro. 2015

Augusto de Campos - viv (1992), “viver é defender uma forma” 
(hoelderlin via Webern)

“amortemor”, Augusto de Campos


 "o pulsar", Augusto de Campos (1975)

“Código” de Augusto de Campos (1973)

"Olho por olho", de Augusto de Campos (1964)

Pentahexagrama para John Cage, Augusto de Campos (1977)

SOS, Augusto de Campos (1983)

Viagem centrípeda ao buraco negro do desconhecido. 
Da ego-trip à SOS-trip do enigma da pós-vida.
 
- Augusto de Campos, em "Clip poemas". (CDrom). São Paulo: Perspectiva, 2003.


Augusto de Campos - foto (...)

POEMA TRADUZIDO POR AUGUSTO DE CAMPOS

         [CADÁVER-CONSOLO]
Não, cadáver-consolo, não vou me repastar contigo, Desesper-
o, nem desligar – por lassos – os últimos laços de homem em mim,
Nem, por mais desvalido, gritar não posso mais. Eu posso, sim,
Posso algo, esperança, ânsia de aurora, não escolher não ser.
Mas ah! mas, tu, terrível, por que rude em mim crescer
Teu destro pé de pedra pune-universo? leão-látego assim
Varar com olhos trevorantes meus pisados ossos e até o fim
Trovão-troar-me a mim, empilhado aqui, no frenesi de fugir de ti e te esquecer?

Por que? para que a minha palha voe; o meu grão, claro e puro, jaza,
Pois que em meio à tortura e à tortura eu (parece) beijei o açoite,
Ou mão, então, meu coração em cor-vigor, riso-roubado, a festejar se compraza.
Festejar quem, porém? o herói que me céuaçoitou, o pé que se abateu s-
obre mim? ou eu que luto? ou qual? ou ambos? Naquele ano, aquela noite,
Brasa no escuro em que eu, mísero, medi-me com (meu Deus!) meu Deus.

(1885)



       [CARRION-COMFORT] 
Not, I’ll not, carrion comfort, Despair, not feast on thee;    
Not untwist—slack they may be—these last strands of man    
In me ór, most weary, cry I can no more. I can;    
Can something, hope, wish day come, not choose not to be.    
But ah, but O thou terrible, why wouldst thou rude on me           
Thy wring-world right foot rock? lay a lionlimb against me? scan    
With darksome devouring eyes my bruisèd bones? and fan,    
O in turns of tempest, me heaped there; me frantic to avoid thee and flee?    

Why? That my chaff might fly; my grain lie, sheer and clear.    
Nay in all that toil, that coil, since (seems) I kissed the rod,            
Hand rather, my heart lo! lapped strength, stole joy, would laugh, chéer.    
Cheer whom though? the hero whose heaven-handling flung me, fóot tród    
Me? or me that fought him? O which one? is it each one? That night, that year    
Of now done darkness I wretch lay wrestling with (my God!) my God.    

(1885)

- Gerard Manley Hopkins, em "Hopkins: a beleza difícil". [introdução e traduções de Augusto de Campos]. São Paulo: Perspectiva, 1997.


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