Dois poemas de José Kozer

/
0 Comments


MADAME CHU        


         Madame Chu (ao amanhecer) guardanapos de linho, chá verde (ou chá
                   do Ceilão) e uns pãezinhos à base de gema (levíssimos)
                   marmelada de vacínios.

         E como uma natureza-morta um ovo duro em seu cálice
                   pequeno de porcelana (toalha orlada com uma franja
                   de cruzinhas vermelho amarelo vermelho) gravada, dois limões.

         Modorra, ainda: ontem à noite brotaram de seu sonho uns escaravelhos                           difusos, passou um porta-voz do Imperador diante de sua
                   janela (cobrindo-se de glória com um monólogo) e um
                   leque

         se desfez.



UM DIA FELIZ EM UM POEMA NAIF JUNTO A UMA PORTA ENVIDRAÇADA

Charamelas, um piano-forte em um campo de
          samambaias.

Sou um recém-chegado, bem de saúde, sentado na cadeira de
         cânfora na posição de shogun.

O leão imperial olha no alto a torre de um azulejo a
outro no solo vermelho lajotas brancas leão e
torre azuis, da cozinha: o grande azulejo
incrustado na parede da cozinha olha no alto
desde um leopardo verde-oliva gargantilha sépia
          o espetáculo (salpicaduras) da luz do sol, no solo.

Agora o ar tem ar de recém-chegado de haver sido      
          ameaçado por cítaras entre lauréis de Índias,         

A pera de água que acabo de morder tinha o
          corpanzil de buda, litros e decilitros, ar e água
          (dois decentes animais) compensam todo gasto
          do corpo.

E a pura verdade é que a mulher do bosque tocando
          o harmônio está morta; já não é fêmea.

Invocação: o ar que acalenta o campo de papoulas
          traz a fêmea acaçapada; vai, mexeriqueira.

* Tradução: Cláudio Daniel e Luiz Roberto Guedes


Bernadette Lyra

Nasceu em Conceição da Barra, Espírito Santo. Formada em Letras pela UFES, pós-graduada pela ECO/USP, pós-doutorada pela Université René Descartes, Paris V Sorbonne, França, e mestre em Comunicação pela ECO/UFRJ, atualmente leciona no curso de mestrado em Comunicação Audiovisual da Universidade Anhembi Morumbi e é cronista do jornal A Gazeta, de Vitória, ES.

You may also like

Nenhum comentário:

A CAPITOA

Sobre Autora


Bernadette Lyra – Mestre em Comunicação pela Escola de Comunicação da UFRJ. Doutora em Cinema pela Escola de Comunicações e Artes da USP, com pós-doutorado na Université René Descartes, Paris V, Sorbonne. Membro do Conselho Científico da Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual (SOCINE). Coordenou o GT de Cinema, Fotografia e Vídeo, da Associação de Programas de Pós-Graduação em Comunicação (COMPÓS). É professora do PPGCom/Comunicação Audiovisual da Universidade Anhembi Morumbi (UAM)/SP. Foi coordenadora e atualmente é professora do PPGCom/Comunicação Audiovisual da Universidade Anhembi Morumbi. É curadora das mostras Itaú Cultural de Cinema de Bordas. Tem livros e artigos sobre cinema e audiovisual, publicados no Brasil e no exterior. É, ainda, escritora de ficção, com obras premiadas e traduzidas.

Publicidade

Buy The 1st Issue of Playboy in Digital for the First Time Ever

Em destaque

Poemas de Mark Strand

Publicações


Livre Design Studio
Saraiva

Popular Posts

  • POEMAS ESCOLHIDOS DE RUY DUARTE DE CARVALHO
    Adoço-te as costas com licor de acácia. Espremo-te os rins: um favo de dem-dém. Vou fundo em ti feroz e oiço-te um ai: faz eco em mim a ...
  • Três poemas de Arseni Tarkóvski
    VIDA, VIDA Não acredito em pressentimentos, e augúrios Não me amedrontam. Não fujo da calúnia Nem do veneno. Não há morte na ...
  • POEMAS DE AGOSTINHO NETO
    À reconquista Não te voltes demasiado para ti mesma Não te feches no castelo das lucubrações  infinitas Das recordações  e sonhos que podi...
  • Três poemas de Ana Luísa Amaral
    CONSTELAÇÕES Usamos todos a ilusão de fabricar a vida: história, constelações de sons e gestos Usamos todos a suprema glór...

Livre Design Studio

Facebook

Bernadette Lyra

Marcadores

Publicidade


visualizações de página

Minha lista de blogs