DE MAGIA E DE AFETO

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A GAZETA 21/04/2014



São muitas as formas de magia que rondam a humanidade. Os nossos ancestrais delas sabiam e as praticavam. Os sacerdotes do antigo Egito erguiam folhas de ouro para o sol poente, crentes que, assim, uma deusa ia chegar em busca daqueles tesouros finos e engolir o astro-rei, provocando a noite e o sono sobre a terra. E quem viu Thor deve lembrar daquela ponte do arco-íris que os deuses atravessavam sempre que eram invocados pelos vikings.
Mas há outros tipos de chamados. Há aqueles que provocam a magia de modo natural. Um raio de lua com seu rastejar de opala sobre a areia fria. As flores do araçá abertas, antecipando o azedume perfumado da fruta. A cortiça das nuvens antes que a madrugada se acabe. O mar tingido de  verde quase negro debruçado sobre a faixa camurçada da areia. As últimas estrelas imersas no breu pulsante das trevas movediças. Nada é impossível, quando é a memória que diz “abracadabra” para rodar a chave que abre o misterioso mundo situado na quase-linha do tempo e da distância.
Vocês podem me indagar, com curiosidade, qual o motivo deste memorial de encantamentos que saltita nesta crônica. Eu respondo. Ah, eu respondo! É que, de repente, não  mais que de repente, começo a me lembrar disso tudo que vivi quando era menina. Começo a me lembrar, imersa no lusco-fusco de uma tarde paulistana que poderia ser banal e dura, mas que, por uma fração de segundo, como um passe de mágica, se transforma em um balaio de afetos.
            E não falo do afeto apenas em seu sentido banal do dicionário:  disposição anímica, sentimento, amizade, simpatia. Falo do afeto que me alcança como uma voz no litoral de um sonho, neste momento mesmo em que recebo o convite de uma Mostra Literária.
            É um convite singelo e delicado. E aqueles que o enviam talvez nem saibam que, para mim, é ele uma invocação encantatória, daquelas que só podem ser encontradas na alegria.
            Digo alegria, porque a alegria é a fada transparente que me chega com o convite. Reconheço-a pelo cheiro de jasmim no cabelo esvoaçante, pelo alvoroço que provoca no meu peito atarantado, pelo jeito que me toca como o orvalho sobre o ombro.  Chega bem de mansinho, a alegria, e sacode a varinha de condão em minha tarde paulistana, que já se fazia coberta pela cinza corriqueira do cotidiano, do trabalho e do cansaço.
Nesse pedacinho mágico que recebo, através do espaço da internet, vem escrito:  “É com muita honra que os alunos da E.M.E.F. ‘Dr. Mário Vello Silvares’ convidam para prestigiar a culminância do projeto ‘A canção do teu nome encanta’, no dia 25 de abril de 2014, às 9 horas”.
Vocês entenderão a causa de tanta comoção em mim. A escola Dr Mário Vello Silvares fica em minha terra natal, em Conceição da Barra. E o projeto foi desenvolvido por meninas e meninos do nono ano, que a frequentam, sob os cuidados e orientação dos Professores Wallace Linhares e Jussara Supelete.
A coisa mais querida, o que mais me toca, o que me faz feliz, é que, entre tantos e tantos nomes ilustres a escolher, esses jovens barrenses, com carinho, escolheram homenagear o nome desta cronista que, agora, grava a para vocês as mal-traçadas linhas deste texto, na página do jornal.
É uma honra receber esta homenagem. Tão tocante, que me deixa  com o coração tremido, tomado pelo mel da gratidão.
É uma homenagem generosa, linda e boa. Que atinge a gente como se fosse a sombra azul e líquida de um céu. Que se derrama sobre a alma desta escrevinhadora como se fosse um bálsamo. E que a torna muito mais vivente.





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