Três poemas de José Alberto Oliveira

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A PROVÍNCIA

1. CHAVES
Qual a virtude
das cidades pequenas?
A bondade das sestas?
A excelência de almoços,
nos fins-de-semana?
A melancolia do crepúsculo,
no traço das serras?
Se outros preferem
mediocridade mais anónima,
haverá quem pense
que algum sítio
é bom para viver.
Ou nenhum.
O que é o mesmo.

2. CHÁ (E UM EPIGRAMA DE PALLADAS)
As tias do Castelejo
não permitiam que as visitas
saíssem sem beber
xícaras de chá forte e açucarado 
eu tinha por esse chá a devoção
e o entusiasmo de um prosélito.
Agora que lavam os pires
nas ribeiras do paraíso
e eu substituí tal infusão
benévola por sublimados bárbaros,
estarei também já morto
e a vida é um sonho,
ou estarei vivo e foi
a vida que morreu?


CRÔNICA
Uma gripe que se arrasta
um jantar que ficou azedo,
uma lembrança por enganosa,
um empenho que não vale o que custa.
Para outra altura fica o resumo
dos milagres, o relato dos prodígios
a prova derradeira da falência dos humores.

Agora, mais do que antes, os artistas
têm pressa e o demiurgo acordou;
o espírito afundou-se nas águas.
Amanhã, quem acordar cedo terá
mais tempo para se arrepender.


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