Dois poemas de Oscar Wilde

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A TUMBA DE SHELLEY

Como tochas consumidas junto ao leito de um enfermo,
os delgados ciprestes rodeiam a laje calcinada:
ali fez seu trono a pequena coruja
e mostra o lagarto sua cabeça adornada.
E onde os cálices das papoulas de lilás se inflamam,
certamente no silencioso lugar da pirâmide
esconde-se alguma esfinge da Antiguidade,
guardiã atenta deste lugar que aos mortos dá paz.

Ah! Doce é verdadeiramente descansar no seio
da Terra, mãe suprema do sonho eterno;
e quanto mais doce é para ti uma tumba
na caverna azul onde o eco ressoa
ou ali onde os grandes navios batem na escuridão
contra as rochas de um penhasco onde batem as bravas ondas.


SANTA DECCA

Os deuses estão mortos. Já não ofereceremos
coroas de oliveira a Atena de olhos glaucos!
O filho de Deméter não recebe o pagamento de nossas
insolências, e os pastores cantam ao meio-dia sem medo
porque Pã está morto, e não existem amores ocultos
pelas clareiras do bosque nem nas tocas escusas:
O jovem Hilas já não busca nas fontes,
o Grande Pã está morto, e o filho Maria é Rei
mas, talvez nesta ilha em êxtase
mantida sob mar, algum deus
mastigando o amargo fruto da recordação,
permaneça oculto entre os asfódelos.
Oh Amor, se assim fosse trabalharíamos prudentemente
fugindo de sua ira: negá-lo, mas olhar,
as ondas se agitam: permaneçamos um instante observando.

* Tradução de Pedro Fernandes


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