Sobre um novo catatau de cartas de Elizabeth Bishop

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Há correspondências e correspondências. As de Elizabeth Bishop além de revelar muito da sua trajetória e do seu tempo, por exemplo, também ajudam a entender o Brasil de entre os anos de 1951 e 1971, período em que a poeta viveu entre Petrópolis, Ouro Preto e Rio de Janeiro. Até agora, o que se conhecia dessa correspondência como completa estava reunida numa edição de 1976, um catatau de 800 páginas publicado no Brasil em 2008 (“Uma arte: as cartas de Elizabeth Bishop”, pela Companhia das Letras). Mas, há ainda um mundo cartas da poeta. Parte delas veio a lume ainda em 2001 quando sua biógrafa, a escritora Megan Marshall, localizou um lote. Ao todo são mais nove anos de correspondências inéditas da poeta.Estiveram guardadas com a viúva da última namorada, Alice Methfessel, por quem Elizabeth se apaixonou depois do suicídio de Lota. Megan é autora de um ensaio cuja publicação sai na nova edição da revista “Serrote”, cf. noticia o jornal “O Globo”, onde analisa centenas de missivas e cartões-postais. “Quando Alice morreu, em 2009, tinha deixado instruções à parceira, Angela Leap, para enviar um lote de documentos para o Vassar College, onde ficava armazenado o acervo de Elizabeth Bishop desde a sua morte, em 1979. Ninguém mais sabia desses papéis, e ainda levou dois anos para que tudo fosse catalogado e disponibilizado à pesquisa. Em meio àquele material, havia uma caixa diferente, trancada, que Angela não havia aberto”. Nas cartas, escritas entre 1970 e 1976, a pesquisadora observou minúcias da rotina da poeta — Elizabeth tomava longos banhos quentes de banheira enquanto tomava seu “bloody mary”; fazia uma espécie de “recenseamento” de flores; imitava a forma como Alice se despia, tirando a meia-calça de forma desleixada. Também reiterou os argumentos que a faziam rejeitar as coletâneas de poetas mulheres (“por que não ‘Poetas homens em inglês’? Você não percebe como isso é tolo?”, escreveu ela) e criticou a produção literária americana (a exemplo da poeta Sylvia Plath, a quem se referiu como “insípida” e “superficial”). Megan acredita que esse apanhado de correspondências seja a descoberta mais importante da história da poeta.


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